quinta-feira, 30 de junho de 2011

Meu desejo em relação às MPBs que ouço

Perdoe-me Vinicius e Jobim, mas essa história de “Eu sei que vou te amar” não cola mais, pois eu não posso amar por toda minha vida, nem desesperadamente amar quem não corresponde aos meus sentimentos.  Não desejo “sofrer a eterna desventura de viver à espera de viver ao lado seu, por toda minha vida”.
José Augusto me poupe, longe de mim “Agora Aguenta Coração, você não tem mais salvação...”, há remição sim, quando olho para meu eu, aprendendo a me amar!
Esqueço-me de vez do “Oceano” de Djavan, onde “amar é um deserto e seus temores, vidas que vai na cela dessas dores” , preciso  de um oásis, segurança, liberdade emocional.
Cartola que me desculpe, mas não vou me queixar às rosas, afinal, elas não falam... Também  não quero sonhar um sonho  incorrespondido e depois implorar que alguém venha  “ver os meus olhos tristonhos”.
Nada de “Vivendo por Viver” do rei Roberto Carlos, nem pega bem a um monarca e aos seus amantes súditos “viver por aí por viver, com valores reprimidos por alguém” e mesmo assim “insistir em cultivar a presença desse “alguém”, mesmo que esse “alguém” nem saiba”, isso é humilhante!
Basta de “Jura Secreta”  onde “os beijos de amor que não roubei e as juras secretas que não fiz,  entristecem”, quero realização, nada de me martirizar!
Grito de alerta, oh Bethânia, chega desse negócio de “uma dor arruinando meu coração, de um lado carente dizendo que SIM e essa vida da gente gritando NÃO”! Quero aceitar a realidade e desprender da escravidão denominada carência!
Quero mesmo é a resposta para a interrogativa introspectiva de Buarque “O que será que será que dá dentro da gente e não devia, que desacata a gente que é revelia”, visto que, torno mais pleno, quando me entendo.
O que desejo mesmo é ir “caminhando e cantando e seguindo a canção” sobre o embalo de Geraldo Vandré, afinal, Belchior já dizia o que penso, quando compôs “que apesar de termos feito tudo, tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”, então  “ viver é melhor que sonhar” e já vem “vindo no vento um cheiro de nova estação”, portanto, vivamos tal novidade!
Quero “a risada mais gostosa” e “esse jeito de achar que a vida pode ser maravilhosa” de Ivan Lins.
Almejo Elis com sua “casa no campo, onde eu possa ficar do tamanho da paz, compor muitos rocks rurais, a esperança de óculos e o filho de cuca legal, plantar e colher com a mão a pimenta e o sal”.
Anseio seguir o conselho de Tihuana “viver um dia de cada vez, sentir saudades e não ter medo de chorar”.
Desejo desfrutar de “Tempos Modernos”  de Lulu Santos, “um novo começo de era, de gente fina, elegante e sincera, tudo isso por cima do muro de hipocrisia, uma vida clara, farta, repleta de toda satisfação”,em que eu possa “viver tudo que há pra viver”, com responsabilidade, é claro!
Quero que, em minha quietude, junto a Milton Nascimento “falar da cor dos temporais e de pequenos fragmentos de luz” e “amar de novo, e se não der, não sofrer”.

Enfim, rogo, que juntos viajemos na “Aquarela” de Toquinho, enfrentando os bens e adversidades existenciais, com muita alegria, garra e determinação, mesmo sabendo que, um dia, enfim, “descolorirá”.
Denilson


segunda-feira, 27 de junho de 2011

Minha segunda-feira nublada!

Olá queridos leitores, como estão?
Bem, hoje, segunda-feira, trabalhei pouquíssimo, aqui está um dia nublado e esses dias me remetem à reflexão, penso, penso, e, descartando Descartes, às vezes, não existo(risos).
Sou muito saudosista, já fui mais e acho que sofria demais. Hoje ainda sou, mas consigo lidar melhor com isso!
O novo vem quebrando o passado, nos força a adaptação.
Saudade da infância, cheiro, sabores, lugares, de um amigo que se foi, da voz, das brincadeiras, saudade da gente mesmo, dos sonhos empoeirados!
E temos de lidar com isso, com a dor de saber que algumas coisas jamais voltarão, estas, eternizam nossa saudade!
Hoje, também não estou pensando só na saudade, mas no cuidado que devemos ter quando cativamos a alguém, lembra-se da frase de Exupéry "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas"?
Pois é, quantas pessoas "brincam" com sentimentos alheios dizendo que gostam, fazem juras eternas e do nada se tornam frias, abandonam, não cultivam a amizade?
Fico observando essas situações e penso, como pode alguém em perfeito juízo agir assim?
Não somos irracionais, nos diferenciamos dos demais, portanto devemos ser mais transparentes em nossas relações sejam elas de amizade ou de namoro!
Ah! Por falar em namoro, quantos estão vivendo um relacionamento de aparência e têm medo de separar? É como a frase "ruim com ela, pior sem ela".
Quantas pessoas não rompem o casulo por medo de enfrentar consequências?
Preferem viver deprimidas, angustiadas a tentar ser feliz na sua essência.
E por falar em angústia e tristezas, sempre que me sinto assim, identifico as causas, na maioria das vezes, sempre existe um motivo!
Vamos de mãos dadas? (risos)
Acho que os assuntos abordados aqui estão meio incoesos, é que me lembrei de Drummond:
"Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente."
Bem, já já vou tomar um cafezinho, afinal, aqui está nublado, nuvens espessas, ora desaguam...como meus pensamentos...ora precisam eclodir para suavizar o oculto lugar onde descansa minha essência.
Abraços queridos, continuem reclinado suas cabeças em meu divã, espero que esteja aconchegante!
                                                                                                Denilson 27/06/2011

domingo, 26 de junho de 2011

Rima ao acaso

Caiam sobre mim rosas acácias, camélias, dálias!
Cada qual com sua representação,
o amor seja sempre intenso,
a perfumar, doce incenso!

Que, a cada passo, na existência,
a triste lida, destino hostil,
se converta em iminente florescer,
suceda ao novo alvorecer!

Fortuito algoz , impiedoso repente,
ascende como chama abrasiva!
Mana em quietude, incessantemente,
águas, sobre minh’alma latente!

Desperte amena paz, fluente,
inunde-me sobre outro norte.
Cores, amores, transbordem,
recaia sobre a vida, feliz sorte!

Denilson 25/06/2011



sábado, 25 de junho de 2011

Desilusão: O príncipe virou um sapo!

Sentimentos... ai, ai, ai...quem nunca passou por uma crise sentimental?
Isso acontece pela maldita EXPECTATIVA que depositamos na outra pessoa, na realidade, a própria relação costuma dar indícios de que alguma coisa está indo errada, mas acreditamos que através do nosso esforço e dedicação iremos reverter esse quadro.
Acreditamos que a pessoa por quem estamos apaixonados ou vivendo alguma forma de relação é perfeita, afinal, ela consegue nos surpreender, e isso com um pequeno gesto de carinho. Depositamos muito amor, dedicação, cuidado extremo e recebemos como recompensa gestos pequenos e por estarmos  “fisgados”, achamos o máximo.
A imaturidade alheia é terrível e consegue pegar nossas carências subitamente,existem pessoas que ficam eufóricas com um pequeno afago. Devemos desejar mais, pequenos gestos são importantes sim, mas devemos estar atentos para recíproca em relação aos  nossos grandes gestos.
Especialistas na área advertem para uma coisa muito importante que devemos possuir para a relação e para enfrentar a desilusão : AMOR PRÓPRIO.
Sair da zona de dor não é fácil, já sabemos disso, entretanto, depende de você, até quando criará situações para viver a vida do outro, querendo controlar uma vida que não é sua?
A dura realidade é que o outro já pode ter alguém, estar feliz nos braços de outra, e você aí sozinha, remoendo, se martirizando e implorando amor!
O príncipe virou um sapo?
Recomece, apóie-se em sua família, em algo que lhe dê prazer, em um amigo. Ah, e por falar em amigo, um fato interessante de ser lembrado é que muitas pessoas quando começam um relacionamento, rompem seus vínculos de amizade e quando as coisas não dão certo, voltam-se para quem ? Conserve seus amigos!
Qual relação nunca terminou? Encontraremos várias por esse mundão afora!
Reconstrução exige esforço físico, emocional, há de se carregar tijolo por tijolo, pedra por pedra, remover os entulhos do interior.
Querido leitor, veja essa fase como uma nova viagem, um novo perscrutar de caminho, o novo vem sim, só depende de você!
Denilson 24/06/2011

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Os Retratos

Os antigos retratos de parede
Não conseguem ficar longo tempo abstratos.
Às vezes os seus olhos te fixam, obstinados
Porque eles nunca se desumanizam de todo
Jamais te voltes pra trás de repente.
Não, não olhes agora!
O remédio é cantares cantigas loucas e sem fim…
Sem fim e sem sentido…
Dessas que a gente inventava
enganar a solidão dos caminhos sem lua.


Mário Quintana

domingo, 19 de junho de 2011

Ainda dói...

Ainda dói esta ausência, aperta meu peito, a lembrança de que já faz tempo que não te encontro.
Dói a ausência das palavras, que não soa mais de madrugada como música suave.
Custoso é perceber que tudo não passou de ilusão.
Causa-me sofrimento, querer saber sobre você, sua nova vida, anseios e designíos!
Penoso sofrimento é pensar na distância, alternada de sentimentos e quilômetros.
Aflição variável, pois ora me prende súbita e traiçoeira, ora libera-me à felicidade, quando há aceitação do abandono.
As noites de inverno juntam-se à minha agonia, querendo seus braços, suas mãos, implorando seu corpo, em repouso côncavo ao meu.
Meu romantismo converteu-se em desengano, suas palavras que outrora me tornavam crente, hoje, desumanizam-me, reduzem-me a um incrédulo.
Meu amor, tão lindo, puro néctar, varia em sucessão, transfigura-se absinto!
Nada mais me consome além da sua face cravada em minha lembrança, em forma de saudade!
Percebo sua indiferença, tamanha frieza, que expurga de mim, toda chama que acreditava existir em ti.
Refugio-me no tempo, capaz de dissipar dores e retribuir as injustiças, como pagamento exato dos que afligem à alma sincera!
Esse rústico tecelão há de juntar novos fios, em seu tear invisível, há de tecer  nova indumentária,  para dissipar o frio dessa solidão!
Denilson
                                                             19/06/2011

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Evoluindo...

Vídeo extremamente lindo, fala da evolução vital, das necessidades e expectativas do outro. Amigo, convido-o a assistir, lindo, realista, perfeita mensagem!
Comece bem sua semana!
Com carinho,
Denilson

sábado, 11 de junho de 2011

Sem Inspiração!


Onde estão as palavras, os passos e descompassos de minha inspiração?
Cadê o silêncio das palavras que ora ecoavam em minha mente?
Por onde estão meus sentimentos de amor, ódio, bondade, agitação, quietude?
Desassossego voraz, ímpeto desaparecimento ...
Apatia de mim para comigo mesmo...
Nada me comove, nem me consome...
Nada me move!
Nenhuma esperança que dança,
Nenhuma harmonia que rima,
Nenhum triunfo,
Nenhuma desgraça,
Nem vitória,
Nem  derrota!
Isso porque,
Faltou-me inspiração!

 Denilson 11|06|11

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Entre o Querer e o Realizar

Há uma distância entre o querer, o poder e o realizar, mas...
Que essa distância nunca tolha meus sonhos, aqueles que, no útero de meu ócio, são gerados!
Que em meio a minha maior decepção, permaneça, ainda assim, a paz, a calmaria, a tolerância.
No ápice de minha incredulidade, renasça incompreensivelmente a fé, e que as preces sejam realizadas fervorosamente, amparadas  pelo Céus.
Quando a perda repentina atacar-me, que exista em mim compreensão à dor, e que ela não estabeleça em mim nenhuma raiz de maledicência pela vida, que eu compreenda o ciclo natural, às vezes, doloroso...
Que a saudade seja reminiscência nostálgica, ainda assim, compensadora, lembrança do bem, da bondade, da descontração, do abraço, pretérito bom  vivenciado!
Que a injustiça, intolerância, a mentira jamais me frustre, mesmo quando achar incluído na minoria!
Se minhas projeções forem abortadas, que ressurja  o desejo de uma nova gestação.
E que as flores permaneçam  sempre belas, e os pores do sol, ainda despertem em mim inspiração!
Que meu sorriso tenha a inocência de uma criança,
Que eu seja fonte de fé, felicidade, acolhimento, saudade...
Águas que jorram justiça, tolerância, verdade, motivação!
Gotejo  de inocência,
Isto, sem distância,
anseio poder e realizar!
Denilson  09/06/2011

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Controle sua raiva!

"Alguém incapaz de sentir raiva é como uma abelha sem ferrão. Ela
é necessária para superar os obstáculos"
STEPHEN DIAMOND, psicólogo
Adaptei esse texto, acrescentando e extraindo o que eu considerasse útil postar aqui,foi extraído da Revista Época de 28 de junho de 2010. Achei muitas dicas importantes sobre a importância de controlar a raiva.
A matéria mostrou como usar a fúria ao nosso favor, perceber o outro e se perceber é importante para que se controle a raiva.
Para o psiquiatra Geraldo Ballone, da PUC de Campinas “O sentimento de raiva vem de nós, não dos outros, embora seja aos outros que o atribuímos”, diz. “A raiva é um patrimônio do sujeito. Sabendo disso, podemos racionalizar melhor os eventos que nos levam a explodir.” Isso me fez lembrar de Shakespeare quando escreveu em seu texto “O Menestrel” “você tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel”.
Segundo a matéria, a raiva bem dirigida é uma forma essencial de energia, que tem sido amplamente empregada em favor de indivíduos e de grupos. Cita o exemplo de grandes esportistas que através da raiva, transformaram suas competições mais agressivas e eficientes, porém os mesmo especialistas que pregam a necessidade de admitir a raiva, alertam para seu uso indiscriminado.
A raiva, mesmo controlada, se expressa externamente, por exemplo, por meio de avermelhamento no rosto. A serotonina (um neurotransmissor, ligado ao prazer) tem um papel importante no mecanismo de controle da raiva, se os níveis de serotonina não forem adequados por causa doenças como depressão e o estresse, o cérebro “racional” não será capaz de controlar a raiva, fazendo com que esta se manifeste com explosão de fúria.
 Então pratique exercícios físicos e tenha uma alimentação saudável para aumentar o nível de serotonina.

Segue abaixo, dez dicas para o auto-controle que considero consideráveis:

1-      Controle todas suas decisões, julgue e controle seus pensamentos, sentimentos e comportamentos, independentemente do que os outros pensam.
2-       Não dê  a si o direito de se explicar e justificar seu pensamento somente quando julgar necessário, não seja seu próprio juiz na avaliação de seu comportamento, lembre-se que “às vezes” quem está de fora pode perceber algo e lhe ajudar.
3-      Tenha humildade para perceber quando a ideia do outro é melhor e sinta-se confortável nessa mudança de opinião.
4-      Não fique se punindo quando cometer enganos. Perdoe-se, procure em que ponto e por que errou para ser melhor na próxima vez. Seja tolerante com os erros do outro, busque ajudá-los, não os ataque.
5-      Aprenda a se sentir tranqüilo quando tiver que dizer “não sei”, principalmente quando a informação não fizer parte de sua essência de trabalho.
6-      Não viva à mercê da boa vontade dos outros para se sentir seguro e aceito. Procure desenvolver qualidades, e credibilidade e aceitação das pessoas surgem como resposta.
7-      Quando perceber que um colega não compreende seus sentimentos e desejos, não se ofenda, diga-lhe claramente o que sente. E vice-versa. Aprenda a pedir desculpas quando ofender a alguém, isso de forma tranquila.
8-      Quando alguém me aponta um “defeito”, não fique desapontado nem com raiva. Aprenda a respeitar a opinião do outro e agradeça o retorno, depois decida se muda ou não, isto é, caso possua autoconhecimento de suas fortalezas e fraquezas.
9-      Quando se posicionar, perceba que se é ouvido e se as pessoas levam em conta suas ideias. Não se abdique de dizer o que pensa nas reuniões e  aprenda a não ficar com raiva se ouvir um não das pessoas. A omissão é a pior do que uma ideia exposta e não aceita pelo grupo. (Isso, ao meu ver,  acontece frequentemente, quantos fazem “tipo” perante o grupo ou o diretor de uma empresa) .
10-   Aceite que seus colegas tenha o mesmo direito que o seu, assegure-se que suas relações são maduras e produtivas.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Minha Vida - Liberte As Emoções Reprimidas!

Chore. Não tenha receio de demonstrar seus sentimentos. Viva cada lágrima com a devida intensidade. A vida não pode ser reprimida. Nossas dores e temores, anseios e fracassos, erros e descaminhos são parte integrante da jornada de todos e de cada um de nós. Muitas são as pessoas que literalmente "represam" seus sentimentos e acabam se tornando amargurados e infelizes seres a perambular pelos quatro cantos desse imenso planeta.
Ria. Dê altas gargalhadas. Se permita sorver cada momento feliz de sua existência sem ser tolhido pela presença de outras pessoas. Quantas não foram às vezes em que antes de soltarmos o riso franco tivemos a preocupação de olhar de lado e avaliar se nossa alegria seria bem recebida. Liberte-se dessas "neuras" e divirta-se com cada instante de sua vida, eles não retornam jamais...
Não podemos perder tempo. Se há mágoas que nos tornam infelizes temos que desatar esses nós e resolver as diferenças para não acumular precocemente mais e mais rugas em nossa testa. Não deixe que uma grande amizade termine porque algumas palavras foram proferidas fora de hora e de contexto. Tenha coragem de pedir perdão sempre que for preciso e necessário para manter os mais preciosos elos que nos unem a vida.
"Minha Vida", filme de 1993, estrelado por Michael Keaton e Nicole Kidman, nos coloca em contato com uma emocionante história em que aprendemos a valorizar cada minuto de nossas existências a partir de um drama pessoal que pode acontecer com qualquer um de nós, o surgimento de uma doença terminal...
Quantas pessoas já não foram surpreendidas por notícias de tal natureza em suas vidas? Amigos, parentes, colegas de trabalho ou até nós mesmos passamos por situações de saúde extremamente difíceis e nos apegamos à vida, enfrentando a doença com todas as nossas forças e relembrando a cada momento tudo o que vivemos, remoendo as mágoas ou saboreando nossas memórias felizes...
Por que será que temos que passar por situações tão delicadas e dolorosas para nos dar conta do quanto à vida é maravilhosa. Experiência única, sem bilhete de volta, tantas são as pessoas que desperdiçam oportunidades de aproveitar ao máximo os preciosos minutos que lhes são concedidos em suas existências...
Pais e filhos que brigam entre si e deixam de se falar. Amigos que se distanciam em virtude de desavenças tão insignificantes que tempos depois ninguém se lembra ao certo os motivos da separação. Equipes de trabalho que se desfazem em virtude de divergências que poderiam ser resolvidas com algumas conversas e um pouco de bom senso e jogo de cintura...
Já vivi todas essas situações e lhes garanto, é pura perda de tempo. De um tempo precioso que não retorna jamais, como afirmei no princípio desse texto. "Minha Vida" não é apenas um filme que nos leva as lágrimas, deve ser também um libelo em favor da vida e de um melhor aproveitamento da mesma por cada um de nós... Prepare seus lenços e embarque nessa dramática história...

O Filme
Bob Jones (Michael Keaton) está doente. Restam-lhe poucos meses de vida. Executivo bem-sucedido, casado com uma bela e compreensiva mulher, morando numa casa espaçosa que tem um amplo e bonito jardim, Jones tem tudo aquilo que esperamos conseguir em nossas vidas. Ou melhor, quase tudo...
Ironicamente o destino lhe pregou uma grande peça. Ao mesmo tempo em que sua doença se manifestou, sua esposa Gail (Nicole Kidman) ficou grávida. Bobbie ganhou um grande presente e nem poderá aproveitá-lo. A chegada de seu herdeiro tinha que coincidir com a sua partida dessa vida?
Apesar de tudo, Jones não perdeu a esperança de conhecer o filho. Por precaução, decidiu gravar fitas e mais fitas de vídeo através das quais irá se apresentar ao filho. Nessas gravações pretende colher o depoimento de amigos, parentes e colegas de trabalho com os quais convive para que outras pessoas possam contar a seu filho um pouco da vida do pai que não conhecerá...
Preocupado com o bebê que está para nascer, Jones se mostra um tanto quanto amargurado e as nuances de seu humor registram essa sua desesperança quanto ao futuro. Apesar de todo o apoio de sua mulher, a ironia e o cinismo marcam as falas do personagem que tenta, a todo custo, rir de sua própria desgraça.
Como a medicina convencional já não responde satisfatoriamente no combate ao câncer que o consome, Jones procura apoio na medicina alternativa. O contato com o médico oriental Sr. Ho (Haing S. Ngor) o conduz a conclusão de que suas dores e condição terminal estão relacionadas ao afastamento da família (pais e irmão), a dedicação integral ao trabalho e a não demonstração de seus sentimentos...
Há remédio para isso? O que Jones terá que fazer para melhorar sua condição? Será possível vencer o câncer? Caso isso não possa acontecer, como o personagem poderá descansar em paz e não sofrer tanto em sua doença?
"Minha Vida", dirigido por Bruce Joel Rubin, leva as platéias as lágrimas por nos fazer pensar em como somos frágeis. A brevidade da vida e a força das relações humanas também nos emocionam por aproximarmos tudo o que acontece na tela ao cotidiano de nossas vidas. Mais do que reflexão, o filme pede mudanças de rumo e nos remete a uma necessária mudança em nossas vidas e relações...


Para Refletir
1- A vida nos lança desafios diários e como reagimos? Pare e pense a respeito. Será que você os enfrenta, busca soluções novas, pensa de forma otimista em relação aos embates cotidianos que trava em sua existência ou, por outro lado, você reclama, acha ruim, pensa que essas coisas só acontecem com você ou ainda que é difícil resolver tal situação? Será que os dilemas e questões não são oportunidades para o nosso crescimento? Pare de reclamar, pense nessas situações como grandes chances, bote seu cérebro para funcionar e aproveite para aprender e crescer com todas as experiências que a vida lhe concede. Garanto-lhe que cada novo dia será uma inesquecível parte de suas lembranças e não uma página a ser virada e para sempre deixada para trás...


2- Nas escolas ensinamos a lógica, a métrica, a rima, os fatos, o relevo, o funcionamento do corpo humano ou ainda os nomes de rios, países e pessoas importantes para a história. Não ensinamos a amar, respeitar, fazer amigos, relacionar-se bem com os outros, chorar, rir ou curtir a vida. Nossas escolas são, em muitos casos, desprovidas de sentimento. Lugares frios, sem paixão, sem consideração. Chamamos os alunos por números. Mal temos tempo para lembrar seus nomes, pois temos que nos preocupar com as atividades e conteúdos programados. Tudo aquilo que não consta do planejamento temos que ensinar a partir de nosso comportamento, de nossa ética ou de nossa filosofia de vida. Será que estamos preparados para isso? Sua escola acolhe os alunos ou os trata apenas como números? O que podemos fazer para melhorar as relações dentro da escola e valorizar a experiência educacional, indo muito além das atribuições óbvias?


3- Programe uma sessão de cinema na escola trazendo os pais e apresente o filme "Minha Vida". Peça a presença dos alunos ao lado de seus familiares. Converse com toda a plateia logo após a apresentação do filme. O tema principal desse debate é a família, as relações entre pais e filhos, a proximidade que já não existe, o diálogo que nunca se firmou. O que aconteceu com a família no século XXI? Por que estamos tão distantes mesmo quando parecemos tão próximos? O que podemos fazer para melhorar a vida em família?


4- Chore. Ria. Ame. Fale abertamente o que está pensando. Deixe as emoções fluírem. Pise em solo novo. Experimente novas sensações. Não tenha medo de errar. Comece tudo outra vez. Converse sempre que puder. Viva cada momento como se fosse o último. Saboreie cada situação. Sorria para o mundo e, sem dúvida, o mundo irá sorrir para você. Não deixe para dizer que ama alguém apenas amanhã (será que teremos esse privilégio?). A vida é muito curta e temos que aproveitar cada minutinho desse grande presente que nos foi dado...


Ficha Técnica
Minha Vida
(My Life)
País/Ano de produção: EUA, 1993
Duração/Gênero: 102 min., Drama/Romance
Direção de Bruce Joel Rubin
Roteiro de Bruce Joel Rubin
Elenco: Michael Keaton, Nicole Kidman, Haing S. Ngor, Bradley Whitford, Queen Latifah, Michael Constantine, Rebecca Schull, Mark Lowethal, Toni Sawyer.

João Luís de Almeida Machado Doutor em Educação pela PUC-SP; Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP); Professor Universitário e Pesquisador; Autor do livro "Na Sala de Aula com a Sétima Arte – Aprendendo com o Cinema" (Editora Intersubjetiva).
Link para download do filme: http://www.megaupload.com/?d=79N1CVH0

O Que Se esconde Por Trás Do Vaidoso...


Acho de extrema sabedoria o texto abaixo, define a vaidade muito bem. Para mim, por trás de um caráter imprudente, sempre existe um desgosto.
Da vaidade
Parece despropósito afirmar que o vaidoso é um medroso que não pretende o ser. Mas é certo. O vaidoso procura convencer-se de que não tem sentido para sentir-se inseguro, posto que vale mais que os outros. Mas, se tem necessidade de o estar repetindo constantemente, é porque, no íntimo, não só duvida, como está convencido do contrário. E nessa situação, seu aparente narcisismo encobre seu íntimo desconsolo. Por isso, os homens que verdadeiramente têm valor não são, nem podem ser vaidosos; em compensação, é possível que se tornem orgulhosos (o que pode ser um defeito ético, mas nada tem a ver com o medo). Há, é claro, uma vaidade profilática e uma vaidade terapêutica do medo que se tenta dissimular. Na primeira, o indivíduo quase sempre se escuda na recordação de atitudes passadas, para conseguir ânimo "antes" de enfrentar, frente a frente, a dúvida sobre sua real e atual capacidade. Na segunda, o medo já dominou, e ele tenta livrar-se, fingindo um excesso de coragem. Tal acontece, por exemplo, quando, ao caminharmos por uma estrada deserta, sentimos as garras do Medo, e, para o afugentar, adotamos atitude de fanfarrona quixotesca: gesticulamos, sapateamos, assoviamos ou cantamos, giramos nossa bengala e com ela golpeamos folhas e arbustos. Tudo isso equivale a alardear nossa despreocupação e firmeza, quando interiormente nos sentimos a ponto de fugir espavoridos. Nunca melhor aqui se pode aplicar o ditado: "Dize-me de que te gabas e te direi o que te falta".
Por isso a tua etimologia indica que a vaidade é vã, ou seja, vazia, ineficaz, inoperante. O vaidoso é no íntimo um descrente de si mesmo, do mesmo modo que o cético é um pobre vaidoso de quanto acredita saber e acreditar.

Emilio Mira y Lopes

sábado, 4 de junho de 2011

A Garrafa de Lágrimas

O texto abaixo é extenso, foi extraído de um livro antigo, desconheço o autor, acho maravilhoso, embora triste.
Por uma noite de luar, em outubro, uma delicada donzela achava–se ao pé da fonte batismal, e respondia às perguntas que afirmavam sua fidelidade à igreja e ao Senhor para sempre.
Apenas dois anos mais tarde, encantadoramente ataviada de flores de laranjeira, ei-la que chega ao pé do mesmo altar, tendo uma poética atitude de confiança, a mão apoiada ao braço de um robusto e nobre mancebo enquanto ela, com feminil recato, responde às perguntas que afirmavam sua lealdade a ele. Em breve despedem-se e ei-los voando através de novos cenários, em busca da propriedade da família do noivo, da qual ele ficara herdeiro.
Duas manhãs depois, ao saltarem o portão, a uns três quilômetros da estação da estrada de ferro, ela dizia: “De certo não falta senão a certeza da imortalidade para tornar este lugar perfeito. Haverá, além do Céu, um lugar mais cheio de bênçãos? Poderia penetrar nesse ambiente angélico alguma coisa que lhe envenenasse o ar?” Pobre moça! Veremos.
Entre este belo palacete e a grande fazenda, bem tratada a uns quatro quilômetros de distância, havia um botequim ordinário, ponto de reunião dos viciados da região. O nobre proprietário da fazenda nunca transpusera seu traiçoeiro limiar. Uma tarde, porém, ele cruzou-o, em companhia de um “amigo”. Mais tarde visitou sozinho o perigoso antro. Ali bebericou, cavaqueou, bebeu, embriagou-se, jogou, foi assassinado, conduzido para casa, e sepultado no jardim da família. Essa breve narração encerra uma imensa transformação naquela aprazível morada, e abrange um período de dez a doze anos.
Na manhã seguinte àquela em que a desolada mulher acompanhara seu esposo à última morada, ela e as duas meninas mais velhas haviam feito um parco almoço; a mais novinha, de dois anos apenas; saíra do leito, e viera para o pé da mamãe, tomando um pequeninho almoço contido num pires. Ela acabava de devorar o conteúdo do dito pires, quando foi entregue à transtornada mulher, que não dormira em toda noite, um bilhete do taverneiro. Dizia mais ou menos:
Cara senhora (cara!):
“Esta tem por fim informá-la de que tenho em meu poder uma hipoteca sobre os bens do seu marido, isto é, a casa e fazenda, utensílios agrícolas, a mobília da casa, e os utensílios da cozinha, bem como malas e guarda-roupas, e as roupas de uso. Como desejo entrar em posse disso, há de fazer o obséquio de desocupar a casa imediatamente. Envio um homem para tomar posse da mesma e das chaves, etc., e representar-me em tudo.”
Isso era de todo inesperado para a pobre senhora. Se bem que os cavalos da fazenda houvessem gradualmente diminuído de vinte e seis a um, e tudo o mais desaparecido de igual modo, supusera que as poucas eiras de terra, a casa e a mobília lhe pertencessem ainda. Chorara tanto durante os últimos anos, que acreditara não possuir mais uma lágrima a verter, a não ser aquelas lágrimas enxutas, ardentes, que cegam e são as únicas que restam a tantas almas angustiadas de mulher. Nisto, porém, estava ela enganada, pois o conteúdo do bilhete desatou uma nova fonte, que gotejou no pires, enquanto ela, inclinada a cabeça, repousava a fronte abatida nas mãos. Não falava- chorava apenas; não pensava- chorava só; não se ressentia com o conteúdo do bilhete, pleno de infernal avareza- chorava unicamente.
A razão volveu a falar; despertou para a consciência da triste realidade. Viu que as lágrimas lhe haviam caído no pires; e com uma intuição feminina, ela vasou com uma colher numa garrafinha. E colocou-a depois nas dobras do seu vestido de casamento. Escreveu então a seguinte carta ao homem que vendera a seu marido a bebida que o arruinara a ele, a ela e a seus filhinhos:
“Senhor:
“Pedis as chaves. Aqui as envio. Essa que tem um fio vermelho “e a do meu guarda-vestidos. Encontrareis ao lado direito do mesmo o meu vestido de noiva. Usei-o uma única vez. Agora vos pertence, pela demanda de meu marido a quem nunca desobedeci. Nas dobras desse vestido encontrareis uma garrafinha, contendo lágrimas- as últimas que me restaram a verter – e as quais têm uma história. Elas falam do nascimento de uma meninazinha que viu a luz sob um teto feliz; de quinze anos de ditosa infância, de descuidosa vida colegial; de um breve noivado cheio de encantos e do casamento com um homem que era o mais corajoso e melhor que conheci na Terra, não fora a bebida; falam do dia em que nos mudamos para esta habitação, tão bem posta então qual um palácio; da lua de mel- ai de mim! tão breve – que aqui passamos. Haveis de encontrar a história de todos esses doces e sagrados prazeres nessa garrafinha de lágrimas!
“Mas eis que sobreveio, aguda e repentina, uma transformação. Podereis lê-la, senhor, nas lágrimas que vos lego.Elas vos contarão a primeira vez que meu marido transpôs o limiar de vosso vil estabelecimento; a primeira vez que lhe senti o hálito de álcool, e como ele me afastou brandamente para o lado com uma profusão de beijos, dizendo que por amor de mim nunca mais havia de ficar sob os efeitos da bebida forte; como se tornou bebedor habitual; a primeira vez que andou cambaleando; seu rápido declínio como chefe de família quanto a administração e quanto ao amor; a facilidade com que me compreendia mal; seu primeiro praguejar em minha presença. Tudo isso, senhor, haveis de encontrar nessa garrafinha de lágrimas!
“Também aí encontrareis a história de uma tempestuosa noite, em que o vento ululava, e a chuva fustigava as vidraças, e o trovão ribombava, e os relâmpagos recortavam o céu de ziguezague de fogo– noite em que dir-se-ia ir por terra, desmoronando o edifício. Foi naquela noite tempestuosa que nossa primogênita, a pequenita Maria, veio a este velho mundo impregnada de álcool. Haveis de achar também, na garrafinha de lágrimas, a parte que desempenhaste em minha casa naquela noite; pois enquanto um médico me assistia, outro no aposento ao lado, cuidava do meu pobre marido embriagado, vítima de imaginárias serpentes, macacos e diabos. Mas ele, na realidade era senão vítima vossa.
Mas isso encontrareis, senhor, na garrafinha de lágrimas.
“Via, à luz dos relâmpagos, como a tempestade fazia joguete das frondosas árvores. Ouvia a chuva a fustigar furiosamente as janelas. Meu quarto era sacudido pelos irados trovões. Mais alto, porém, do que os rugidos da tempestade, soavam-me ao ouvido os grunhidos e gritos, e imprecações de meu marido, outrara nobre e varonil, mas agora decaído e acovardado.
“Encontrareis tudo isso, senhor, na garrafinha de lágrimas. Ouvi o surdo e estranho vagido ­– o vagido primeiro, que anunciava a chegada do meu primeiro filho – choro que de ordinário ­enche de júbilo o coração materno, mas que a mim me encheu de uma nova angústia, lembrando-me de quão apropriado era aquele começo, a uma vida que se destinava a uma pungente vergonha. Primeiramente orei para que perecêssemos os três na tempestade, que parecia agora incitada por todas as fúrias do inferno. Depois, pedi que o pequenino ser vivesse e pudesse atrair o papai às veredas da sobriedade da qual vós, por amor do lucro, o haveis desviado.
“Na manhã seguinte ele veio e, com dificuldade ficou de pé, olhou para nós com os olhos avermelhados, inclinou-se e beijou-me a mim, e à pequenita, e jurou que nunca mais haveria de beber. Acreditei. As cores volveram-me às faces; um brilho juvenil iluminou-me os olhos; e com certo orgulho de esposa e mãe pus-me a fazer planos para a vida e o lar. Em breve, porém, foram eles despedaçados, pois ainda antes de erguer-me do leito, vi-o volver à casa novamente ébrio. O sol que por instantes me iluminara e aquecera a alma, tombou repentinamente, na irremissível treva de uma negra noite; meu céu, se assim o posso chamar, despovoou-se de estrelas. Envelheci. Petrificou-se o coração.
“ Escusado é falar-vos dos poucos anos que se seguiram, pejados de amarguras, e da chegada da minha segunda filhinha; do desaparecimento do luxo, da deserção dos amigos, da ausência de visitas, dos cortes nas despesas e da economia forçada, a fim de satisfazer às exigências de vossas bebidas; da perda de minha saúde, de outros esforços para conservar fora da porta o lobo; das vezes que eu tive de fugir durante a noite de um marido enlouquecido pelo álcool; de uma mesa vazia; do nascimento da terceira filha, em meio da sordidez que só se costuma ver nas casas das vítimas da bebida; de meus vãos esforços para alimentar e vestir as crianças; do profundo abismo para onde impelistes meu já impotente esposo.
“Uma noite, tanto era a dor que me oprimia o coração que gritei. Isso despertou Maria, que se abeirou de mim, indagando o que era. Disse-lhe que eu sofria tanto, que de certo iria morrer, que ela devia tomar o lugar da mamãe, e cuidar do papai e dos irmãozinhos, que o papai era um bebedor do qual não restava esperança, e que dentro em pouco ela seria a única, em casa a ganhar, a ganhar o pão. Encontrareis na garrafa de lágrimas como passamos aquela noite, Maria e eu, orando e fazendo planos; como a pequenita Maria, ao alvorecer, assentou-se à porta, aguardando a volta do papai; como ao nascer do Sol, ele veio cambaleando pelo caminho outrora semeado de flores, e agora infestado de mato; como Maria lhe correu ao encontro, atirou-lhe em volta do pescoço os bracinhos, dizendo:´Ó meu papai! A mamãe esteve à morte a noite passada. Ela disse que eu deveria cuidar do senhor, e das irmãzinhas. Ó meu bom papaizinho, o senhor não vai beber nunca mais não é verdade!´ com um imprecação que parecia mais vir de um demônio , ergueu o forte braço e bateu na criança – um golpe que a derrubou no passeio, onde a deixou ensanguentada e chorando, e veio bater-me e praguejar-me contra mim. Mas podeis ler tudo isso, senhor,na garrafa de lágrimas, a única coisa que eu possuía em meu nome; e que tenho direito de legar-vos como lembrança de quanto custaram esses bens que ides possuir.
“Faz apenas três dias que quatro dos vossos obedientes serviçais, ao romper da manhã, trouxeram-me o corpo sem vida de meu marido, depuseram-no no soalho e apressaram-se a volver, suponho eu, à mesma mesa de jogo sobre que vossa vítima tombara, assassinado. Encontrei alguns pretos amigos que lhe cavassem a sepultura no jardim que eu julgava ser meu, à sombra de uma de suas favoritas macieiras. Eu tencionava por ali flores no verão e coroas no inverno e ensinar às minhas filhas quão nobre era ele antes de cair em vossas garras. Parece, no entanto, que o enterrei em vosso jardim, sob uma macieira vossa. Efetivamente, ele foi deposto no assoalho de vossa casa. Este se encontra manchado de sangue de vossa vítima. Depois que alguns amigos de cor me ajudaram a amortalhá-lo, e enquanto velava seus preciosos restos naquela noite, tentei lavar as manchas de sangue, pensando que não poderia suportar vê-las e andar sobre elas. Mas eis que vejo agora é vosso o pavimento sobre que aquele que vos deu sua vasta propriedade, sua força varonil, sua família, e a própria alma, encontrou o refrigério de uma tábua.
“Ordenais que desocupe. Obedeço. Ao lerdes esta achar-me-ei em caminho, para leste. Tomo este caminho apenas porque ele me afasta de vós e de vosso antro de destruição. Não sei onde minhas três filhinhas e eu passaremos a noite. Uma coisa vos prometo, porém, seja o que for que haja num lamento de uma viúva e no pranto de um órfão, se existe realmente Deus, hei de encontrar-vos ante Seu tribunal, para ali contar, e dizer a verdade, quanto ao modo porque chegaste à posse da habitação que ora deixamos. Haveis de encontrar isso tudo, senhor, na garrafa de lágrimas.” – Transcrito.