sábado, 30 de abril de 2011

"Às vezes, quando sentimos a falta de alguém, parece que
o mundo inteiro está vazio de gente."

Lamartine

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Ausência (Vinícius de Morais)


Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar seus olhos que são doces...
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres exausto...
No entanto a tua presença é qualquer coisa, como a luz e a vida...
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto...
E em minha voz, a tua voz...
Não te quero ter, pois em meu ser tudo estaria terminado...
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados...
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada...
Que ficou em minha carne como uma nódoa do passado...
Eu deixarei...Tu irás e encostarás tua face em outra face...
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada...
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu...
porque eu fui o grande íntimo da noite...
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa...
Porque os meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
E eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
Mas eu te possuirei mais que ninguém, porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas,
serão a tua voz presente, tua voz ausente, a tua voz serenizada.


Rio de Janeiro, 1935

in Forma e exegese
in Antologia Poética
in Poesia completa e prosa: "O sentimento do sublime"

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Não espere demais das pessoas!

“Cada um dá o que tem no coração, cada um recebe com o coração que tem”
Ótima frase que certa vez eu li... Quantas vezes você é carregado de sentimentos, os mais nobres e você recebe em troca apenas palavras vagas, respostas frias e objetivas!
Amar demais não significa ser fraco, isso depende de como você encara a situação, acredito que seremos menos feridos, quando aprendermos a nos amarmos mais, vivermos mais em função de nós mesmos. Sei que isso pode soar egoísmo, também essa ideia de viver em torno de nós, pode soar solidão.
Olhe a sua volta, quem de fato permanece ao seu lado,  seus pais, alguns amigos...
Você vai ao trabalho, estuda, dorme, seu maior contato é consigo, amo quando Oswaldo Montenegro cita em uma de suas composições:
“Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável”!
Você perceberá que em alguns momentos é inevitável ficar sozinho, mas flores nascem sozinhas, isso pode ser em meio ao deserto!
Não banque o esperto pensando que sua vida será prazer, prazer constante, até o sexo, que remete à ideia do prazer, é momentâneo.
Não espere muito das pessoas, espere de você mesmo, pense em você, estude, trabalhe, viaje, compre roupas novas, mas faça tudo pensando em você. Talvez fazendo assim atraia quem de fato lhe mereça!

domingo, 24 de abril de 2011

Aff! O Feriado acabou…

Não sejamos hipócritas, mas o fim de feriado é triste, nesse feriado eu, por exemplo, revi familiares ( irmãs, primas e amigos, estes, também sinto que fazem parte de minha família).
Agora cada um foi embora, seguir assim sua vida normal! Já estou com saudades, certa vez li que a SAUDADE é o RASTRO que a FELICIDADE deixou!
Pude observar mudanças, inevitáveis mudanças, meu sobrinho, por exemplo, eu o carregava em meu colo, agora está maior e aparentemente mais forte que eu, já não posso o embalar em meus braços como dantes, mas o continuo carregando em meu coração, onde o valor emocional pesa mais do que a matéria!
Em alguns destes amigos percebi a preocupação por coisas desnecessárias que os
impediram de aproveitar intensamente esse feriado, esse encontro! Não os posso culpá-los, isso faz parte do amadurecimento.
Como diz algo que li, se pudesse os guardaria todos em um potinho e não os deixaria que saíssem de lá!
Esse feriado me fez fortalecer mais minha ideia de que devemos viver intensamente, amar intensamente, aceitar as mudanças intensas, sempre recobrando ao pensamento “o tempo é fugaz”, portanto, vivamos!

Queridos, faça da semana de vocês uma semana de sucesso, convivam e aprendam com as dificuldades que provavelmente encontrarão! Torço para que tenham uma linda semana!

Ora (direis) ouvir estrelas!

XIII

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto ...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."

(*) Soneto XIII da obra Via-Láctea 
O. Braz Martins dos Guimarães B.

sexta-feira, 22 de abril de 2011


"Acho que um dos principais motivos de se fazer um filme desses é imortalizar pessoas que têm a coragem de correr riscos". 
 Mary Stuart Marterson

Quase Deuses

A COMUNICAÇÃO IMPLÍCITA E EXPLÍCITA NO FILME: QUASE DEUSES

O filme Quase Deuses narra a história real de Vivien Thomas (1910-1985), afro-americano, afetado pela Grande Depressão dos EUA, que sonhava em ser médico. Após conseguir emprego na Clínica Vanderbilt como faxineiro, começa a estudar os experimentos feitos pelo célebre Dr. Alfred Blalock e logo passa a auxiliá-lo. Autodidata, faz importantes descobertas na medicina juntamente com o Dr. Blalock, resultando na primeira cirurgia cardíaca do mundo. Apesar de sua genialidade, esteve sempre à sombra das aclamações por ser negro, e não conseguiu cursar a medicina, tendo todo seu trabalho reconhecido após receber o tardio prêmio de Doutor Honoris Causa.
O longa-metragem segue duas vertentes interessantes; uma explícita e outra implícita. Expressa a trajetória de Vivian, sua superação, tecnicidade e humildade. Onde o conhecimento adquirido de Thomas, mesmo que informalmente, somada com a exatidão científica do Dr. Blalock torna-se uno, transmitindo a ideia de que o ser humano é dotado da habilidade de aprender e criar.
Toda a experimentação da dupla, às vezes incompreendida, fazia-se necessária para o avanço nas pesquisas médicas. Totalmente laicos, embasados nos resultados das análises com cobaias, geralmente cachorros, foram audazes o suficiente para romper a intangível ciência formada pelos doutores de sua época, quebrando paradigmas em pró de seu objeto de estudo, a saúde do homem. Ainda expõe a tristeza de Vivien dada ao não reconhecimento de seu trabalho e a discriminação racial frequente.
A outra vertente é a demonstração tácita dos fatos históricos onde se ambienta a película. Começando na Grande Depressão, recessão econômica dos EUA no início da década de 30, resultando em altas taxas de desemprego, e queda exorbitante da produção industrial e de renda, resultando no confisco do dinheiro em bancos, motivo pelo qual Vivien perdeu suas economias. Percorre sobre a metodologia usada pela medicina na época, onde não se dispunha de recursos tecnológicos como ferramenta, na busca constante da técnica mais apurada para diagnóstico e cura. Mas o foco implícito deste filme é a narrativa da Segregação Racial, onde naquela época nos EUA, os negros eram discriminados, separados como raça inferior, vivendo numa liberdade escravizada, tratados como escória, marginalizados em tudo, onde não podiam freqüentar ambientes destinados à elite branca, até mesmo dentro das instituições públicas.
O aclive que vai de pequenos gestos quase imperceptíveis, até a manifestação da luta do irmão de Vivien, por igualdade de salário entre professores negros e brancos, dá ao filme um caráter analítico, onde os grandes vilões são a ignorância e a discriminação racial. O filme a grosso modo é informativo, mas sua entrelinha subjetiva uma lição de humanidade, perseverança, superação, luta contra o preconceito racial e quebra das idéias formadas, seja cientifica ou religiosa.
No epílogo, fica clara a mensagem subentendida do filme, quando o sonho de Vivien se torna realidade, recebendo o título de Doutor Honoris Causa. Também se realiza o “eu tenho um sonho” de Martin Luther King (1929-1968), ativista contra o preconceito e a segregação racial, e em trechos de seu discurso enfatiza:

(...) O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons.
(...) Eu tenho um sonho. O sonho de ver meus filhos julgados
por sua personalidade, não pela cor de sua pele. (...). (1963, apud. PENSADOR.INFO, 2008)

Por tudo isso, o filme Quase Deuses é uma obra inteligente, humana, sensível, compassiva e singela que dramatiza a magnífica história de um negro que superou adversidades incríveis em nome de seu sonho.
Por Elizeu Araujo da Cunha

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Título Original: Something the Lord Made
Gênero: Drama
Duração: 110 min.
Ano: EUA - 2004
Distribuição: HBO
Direção: Joseph Sargent
Roteiro: Robert Caswell e Peter Silverman


Quem sabe o amor pode chegar...


Quem sabe o amor pode chegar meio assim receoso... de mansinho, sem alarmar,
em um dia não esperado, talvez você esteja até desarrumado, despenteado...
Então encontra alguém que surja sem explicação, despertando novas sensações, capaz de substituir as antigas desilusões!
 E que então seja diferente, presente na ausência, maduro, capaz de explorar tudo que nunca ousou desfrutar...
Quem sabe ele já chegou?


quinta-feira, 21 de abril de 2011

Liberdade Tolhida: Marionetes Sociais

Você já parou para pensar que o que somos, na maioria das vezes, é aquilo que não gostaríamos?
“Eu faço esse curso porque ele pode me proporcionar mais grana, porque meus pais obrigaram-me”.
“Eu queria trabalhar vendendo sorvetes, mas pensarão que estou louco, caso largasse esse escritório”.
“Saio para balada e para provar que sou o gostosão da área, preciso “pegar” várias “minas!”
Ah, quantas vezes senti vontade de ligar para dizer o quanto alguém era importante, declarar sentimentos, revelar que também sou fraco, mas meu medo, meu orgulho me impossibilitou!
Uma vez li um livro que abordava que as pessoas que mais se agonizam na hora de morrer são aquelas que não fizeram aquilo que de fato gostariam.
Anulamos-nos constantemente, vamos “tampando o sol com a peneira”, retocando um “defeitinho” aqui, outro ali, se nos darmos conta de que represamos muitas coisas lindas, preferimos ser robôs, recebendo comandos externos e anulando quem de fato somos.
Somos marionetes sociais, muitas vezes familiares, precisamos provar muitas coisas, estamos constantemente preocupados com a plateia, sem nos darmos conta de que esta também é palco e personagem, como nós!
Preocupamos demais com o que as pessoas pensam, vivendo vidas alheias, à margem de nós mesmos!
O resultado?
Infelicidade, doenças psicossomáticas, amargura, inconstância de emoções, personalidades múltiplas, amamos pela metade, vivemos pela metade, não somos plenos!
Qual será a página final da sua vida? Um belo desfecho, uma história inédita ou aquela que leva sempre a  um lugar comum?
Assuma sua personalidade, ou seja, sua capacidade individual, social e exclusiva, dê o melhor de si, a você e a todos que serão presenteados pela sua exclusividade!
Denilson

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Pilantramente Incorreto!

Queridos leitores, como foi sua segunda? Espero que boa!
Hoje tive um dia abençoado, nem parecia ser segunda...rs , o trabalho foi rentável, esse ano estou em um novo ambiente de serviço, a cada dia conhecendo as novas pessoas, com quem aprendo demais...Como é bom conhecer pessoas diferentes, a soma de experiência é excelente!
Falando de experiência, fico abismado quando me deparo com individualistas (geralmente em ambiente de trabalho), fazem um projeto às escondidas, amam serem elogiados como autoras de algo, não que elogios não sejam bons, mas, na vida, muitas  coisas não se criam, apenas se copiam, somos frutos de experiências anteriores, que ficam marcadas em nós, permitindo-nos futuramente desenvolver um pseudoprojeto que nomeamos “nossos”!
Aprendamos a somar ideias, cada um tem uma experiência única e um ponto de vista singular, então, por que não explorar as potencialidades de cada um?
Pare com esse individualismo que não leva a nada...
Bem nem sei o porquê eu comecei a escrever sobre isso, pois hoje eu queria falar acerca de um mal terrível: pessoas mentirosas...
Pessoas que enganam as outras, prometendo coisas, burlando leis, mentem desde coisas mais complexas às mais simples! O que me deixa extremamente irritado é a máscara que usam fazendo se passarem por politicamente corretas!
Não quero dizer que sou “o corretíssimo”, mas procuro ser sincero em meus atos, prefiro omitir a mentir, embora há quem diga que omissão é a mesma coisa de mentira, para essa afirmação deve-se valer do dicionário que define ambas:
OMISSÃO: Lacuna, falta, silêncio.
MENTIRA:  Engano propositado. = falsidade.
Pense nisso, mentira faz com que você perca o brilho de seu caráter, sua confiabilidade, transpõe você à margem do engano.
Então... seja  transparente, antes que a justiça Divina exerça em você a lei do retorno, não brinque com as pessoas, nem com você mesmo, se tornando repositório de enganos!
Bem, já  escrevi demais...
Abraços!

domingo, 10 de abril de 2011

Mais uma semana!

Final de domingo, sinto-me que preciso de força para prosseguir, resistir a segunda, que eu e a maioria das pessoas acham maçante.
Rotina não é bom, pelo menos para mim... depois de uma semana de uma leve conjuntivite, que me proporcionou 5 dias de atestado, volto ao trabalho árduo, gostoso: lecionar!
Estava pensando sobre a gratidão, ser grato a Deus porque tenho um trabalho, mesmo que me canse, às vezes, somos ingratos com o Altíssimo, nunca estamos satisfeitos com aquilo que temos, e infelizmente, o real valor só é dado quando perdemos!
Precisamos exercitar nossa paciência, existe um magnífico versículo bíblico(Romanos 5:3,4) que fala sobre lutas e resistência:
"E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a paciência,
E a paciência a experiência, e a experiência a esperança".


Que essa semana seja abençoada, com muita paciência, experiência e esperança, para mim e para você, querido leitor!

sábado, 9 de abril de 2011

Qual o seu maior medo?

O nosso maior medo não é sermos inadequados. Os nossos maiores medos são os de sermos poderosos além da conta.
É a nossa luz, e não a nossa obscuridade que nos apavora.
Ser pequeno não serve ao mundo. Não há nada de sábio em se encolher para que as outras pessoas não se sintam inseguras ao seu redor.
Nós todos fomos feitos para brilhar, como as crianças.
Não está apenas em alguns de nós, está em todos.
E, na medida em que deixarmos nossa luz brilhar, nós inconscientemente damos às outras pessoas a permissão para fazer o mesmo na medida em que nos liberamos dos nossos medos. A nossa presença automaticamente libera os outros."
Resenha do Filme
A história real e inspiradora de um treinador que decide mostrar os diversos aspectos dos valores de uma vida. Ken Carter (Samuel L. Jackson), bem-sucedido proprietário de uma loja de artigos esportivos, aceita ser treinador do time de basquete de sua antiga escola, no subúrbio de uma cidade na Califórnia (EUA). Carter enfrenta tanto a falta de talento dos alunos quanto sua má-educação para torná-los campeões. Para isso, ele logo arma um regime duro de regras escritas, que inclui a forma dos alunos se vestirem até a forma como se respeitam.
Este é um filme onde você pode tirar muitas lições de vida. Baseado em fatos reais mostrando a dura vida dos alunos de uma escola pública nos EUA, onde seus alunos não possuem nenhuma perspectiva de vida, o que vislumbram no futuro é trabalhar como “peão”, cair nas garras do crime organizado, engravidar cedo e não ter acesso ao ensino superior.
Mesmo sendo baseado nos EUA, a situação não é muito diferente em algumas regiões do Brasil onde a realidade é a mesma, só muda a região e as pessoas.
Indo contra tudo e todos Ken Carter consegue com muita disciplina colocar os alunos no “eixo” e fazer deles vitoriosos. Infelizmente, às vezes, é preciso ter muita disciplina para poder vencer na vida. Além disso, é preciso ter determinismo, força de vontade e não desistir nunca para atingir esses objetivos.
O filme mostra também como funciona o sistema educacional, que não é muito diferente do nosso sistema. Um sistema que não prepara os alunos para a vida lá fora, não os prepara para uma universidade muito menos para o mercado de trabalho. Prepara-os para ser “peão”. Outro ponto também é com respeito à sexualidade, a falta de informação a respeito da vida sexual e das consequências de ser ter um filho, o que isso acarreta.
Outro ponto importante neste filme foi à desistência de filho de Ken Carter de estudar numa escola excelente para estudar nessa apenas pelo fato de estar e aprender com o pai que foi um dos melhores jogadores de basquete dos EUA com vários recordes. Seu filho se esforça e consegue bater todos os recordes de seu pai, com isso ganha uma bolsa de estudo para estudar em West point, a academia de formação de oficiais do exército americano.


Este é um excelente filme que traz muitas lições de vida para aqueles que o veem.

ORIGINAL:  Coach Carter (2005)
TAGS:  basquete, disciplina, drama, escola, esporte, professor, treinador, 
FALA:  "Qual o seu maior medo?"
DIRETOR:  Tomas Carter
ROTEIRISTA:  Mark Schwamahn, John Gatins
TRILHA:  Trevor Carter
136 min, drama



sexta-feira, 8 de abril de 2011

Hoje, sexta, fim de tarde…expectativas... não só minha, mas de vocês leitores que buscam a felicidade.
Essa semana estava pensando em um fato...ser sincero requer preço a ser pago...Talvez pessoas poderão se afastar por sua sinceridade, nesse momento temos que dosar nossas palavras como um remédio que, se exacerbar, a dose se tornará letal!
Sabe...nesse exato momento, estou com a sensação do mundo em explosão...loucura, loucura! Uma felicidade sem causa e eufórica...
Um desejo pelo novo, pelo ainda não provado, pela realização ...
Sinta isso...queira isso também!
Abraços

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Os dois horizontes

A M. Ferreira Guimarães
(1863)



Dous horizonte fecham nossa vida:


Um horizonte, — a saudade
Do que não há de voltar;
Outro horizonte, — a esperança
Dos tempos que hão de chegar;
No presente, — sempre escuro, —
Vive a alma ambiciosa
Na ilusão voluptuosa
Do passado e do futuro.


Os doces brincos da infância
Sob as asas maternais,
O voo das andorinhas,
A onda viva e os rosais.
O gozo do amor, sonhado
Num olhar profundo e ardente,
Tal é na hora presente
O horizonte do passado.


Ou ambição de grandeza
Que no espírito calou,
Desejo de amor sincero
Que o coração não gozou;
Ou um viver calmo e puro
À alma convalescente,
Tal é na hora presente
O horizonte do futuro.


No breve correr dos dias
Sob o azul do céu, — tais são
Limites no mar da vida:
Saudade ou aspiração;
Ao nosso espírito ardente,
Na avidez do bem sonhado,
Nunca o presente é passado,
Nunca o futuro é presente.


Que cismas, homem? — Perdido
No mar das recordações,
Escuto um eco sentido
Das passadas ilusões.
Que buscas, homem? — Procuro,
Através da imensidade,
Ler a doce realidade
Das ilusões do futuro.


Dous horizontes fecham nossa vida.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas,
mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.
Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos
o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções
irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos,por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado,
e não compartilhamos.
Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.
Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar.
Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.
Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.
Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam,todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.
Por que sofremos tanto por amor?
O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável,um tempo feliz.
Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como umverso:
Se iludindo menos e vivendo mais!!!
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do
sofrimento,perdemos também a felicidade.
A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional…

Carlos Drumond de Andrade

domingo, 3 de abril de 2011

Cansaço- Fernando Pessoa

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser…


E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto…
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço…

                                                                Álvaro de Campos